terça-feira, 16 de setembro de 2014

As Voltas Que Mundo Dá


Há cerca de oito anos atrás eu recebi, por e-mail, um texto intitulado “Você é Hands On?” (procurei por ele na internet para postar aqui mas não achei). Nele, o autor, que já não lembro quem é, expunha as vantagens de ser e de conhecer pessoas que são hands on além de fazer, de forma bem disfarçada, uma depreciação de quem não era. Gostei bastante do texto e, pra mim, era mais um destes textos que todo mundo recebia muito por e-mail (hoje eles são repassados nas redes sociais) sem muita importância, mas depois me surpreendi.

Pra que não se lembra (ou era muito novo) essa época, entre 2003 e 2005, este tipo de assunto foi uma febre. O Monge e o Executivo, livro de 1998, estava nas listas de mais vendido em tudo quanto era lugar. O mundo corporativo estava bem tentador, afinal o país experimentava uma sensação de, aparentemente, segurança econômica, e brotavam gurus ensinados em como fazer seu currículo vazio parecer cheio, e davam muitas dicas sobre como deveria se portar em entrevistas de emprego, que tipo de pessoa você deveria querer que as pessoas achassem que você é e mais um monte de ladainhas desse tipo. Abrindo um parêntese aqui... talvez nem fosse coisa da época, as coisas sempre foram assim e, na verdade, era eu quem estava chegando na idade de me preocupar com essas coisas. De uma forma ou de outra, eu aprendi muito com os erros dessa geração.

Voltando ao assunto, hands on foi um termo que acabou entrando no cotidiano das pessoas. Tentaram até traduzir mas, pra variar, o mundo corporativo gosta do termo no original. Os headhunters (olha aí...) logo ficaram de olhos para identificar quem eram os hands on, haviam testes em revistas para ver se você era, quem não era ficava doido pra ser. Enfim... muito fizeram, e contrataram, e, verdade seja dita, perceberam que a coisa não é bem do jeito que se pinta. Do auge dessa fase eu destaco um texto homônimo ao que me trouxe conhecimento, escrito por Max Gehringer, onde ele satiriza de forma bem criativa o cenário que se formou.

Não é de se espantar que hoje apareça um movimento oposto. Não sei como começou mas já identifico os mesmos sinais do movimento hands on no novo momento procrastinador. Tomei conhecimento deste através do livro do filósofo John Perry, “A Arte da Procrastinação”. Não li (ainda??), mas já li algumas resenhas e entrevistas falando sobre, além das clássicos testes de revista: “você é procrastinador?”, ou “7 motivos para valorizar a procrastinação” (agora, com as matérias de internet ainda existe o X coisas sobre tal assunto que você não sabia), mas gostaria de falar sobre o movimento, e não sobre a obra em si.

Como bom procrastinador (veja bem... já deixei claro que os textos saem na terça mas, mesmo tendo tempo durante a semana, ainda não escrevi nenhum pra deixar de reserva caso não consiga terminar algum a tempo) eu teria motivos de sobra pra dizer que esse é o grande achado... nestas listas de motivos para valorizar a procrastinação eles não citam exatamente o que é, em minha concepção, a causa de todas as vantagens: O procrastinador pensa muito sobre as tarefas. Normalmente o hands on é mais pragmático, e tem facilidade em agir assim. Os procrastinadores por sua vez já refletem muito sobre o assunto, normalmente afim de achar um jeito de fazer mais rápido, e acabam achando as falhas que, alguém pragmático, simplesmente não enxerga.

Mas, como ficou implícito, eu não acho que esse seja o grande achado. Primeiro, dizer as pessoas que tipo de profissional você quer só faz com que elas se “manqueiem” para parecer com o profissional que você quer... foi você que pediu para ser enganado. Segundo, para ter uma equipe boa é necessário que haja duas coisas: diversidade (de opinião, de tipos, de interesses... especialistas, ecléticos, hands on, procrastinadores, conservadores, liberais, etc) e, consequentemente, dinâmica, saber lidar com as diferenças. É engraçado que isso parece muito obvio, mas na pratica nunca é.

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