terça-feira, 21 de outubro de 2014

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Breve Reflexão Sobre Alimentos Orgânicos #2 – Origens



Continuando a série sobre orgânicos, vou aproveitar como a polêmica causada pelo próprio nome para apresentar, de forma objetiva, um pouco da história e como chegou onde chegou. A palavra orgânico segundo alguns dicionários, significa aquilo que diz respeito a órgãos, também como a parte da química que estuda os compostos de carbono (alguns fazem referência aos alimentos orgânicos, apresentando uma definição, mas que, por si só, não explica o motivo deles terem este nome). E é aí que já pode começar a confusão, afinal boa parte dos agroquímicos, do ponto de vista químico, são orgânicos uma vez que possuem compostos de carbono. Claramente pode se perceber que o dicionário não foi a base, ao menos não foi a única, para batizar essa categoria. De onde vem esse nome então?

A DEFINIÇÃO NÃO DEFINE

Esquecendo um pouco o dicionário vamos dar uma olhada no que diz a definição de alimentos orgânicos. Vou colocar aqui a definição citada pelo PortalOrganico (que pode ser lido na integra aqui) que é uma entidade de referência nesta área, mas, se for procurar em outros sites, artigos científicos, leis e etc, a definição, muito provavelmente, vai ser bem parecida com essa:

“O alimento orgânico não é somente “sem agrotóxicos” como se veicula normalmente. Além de ser isento de insumos artificiais como os adubos químicos e os agrotóxicos (e isso resulta na isenção de uma infinidade de subprodutos como nitratos, metais pesados, etc) ele também deve ser isento de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos e de organismos geneticamente modificados. Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e formaldeído) e aditivos químicos sintéticos como corantes, aromatizantes, emulsificantes, entre outros.”

Agora, caso você não tivesse conhecimento do motivo dos alimentos orgânicos terem este nome, depois de ler esta definição ele está claro pra você? Creio que pra ninguém estaria.

Bom... o motivo de serem chamados de alimentos orgânicos está ligado ao movimento orgânico surgido nos EUA, e a explicação do porquê deste nome não cabe em uma simples definição... vamos falar um pouco da história dele.

ORIGEM DO MOVIMENTO

Antes de mais nada, objetivo aqui não é escrever um histórico do movimento... pessoas mais competentes já fizeram isso e, sinceramente, eu não tenho nada a acrescentar. O que vou tentar fazer aqui é apenas destacar um recorte para subsidiar meu ponto de vista. Para maiores informações sobre a história é só fazer uma rápida pesquisa no google. Vou deixar aqui um link de um bom resumo e outro que concatena a origem do movimento orgânico com o do movimento ambiental.

Na década de 1940 o estadunidense Jerome Irving Rodale decidiu abandonar a vida da cidade e se mudar para uma fazenda recém adquirida no estado da Pensilvânia, para viver da terra. O motivo de seu fugere urbem foi ter tido contato com a obra de Sir Albert Howard em especial o livro An Agricultural Testament.
Jerome Irving Rodale. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/8/85/Jerome_Irving_Rodale.jpg

Howard era um agrônomo inglês que foi enviado para Índia como responsável técnico de um dos campos de produção localizado no distrito de Indore. Lá Howard recebeu o desafio de manter a produtividade dos campos, através das técnicas modernas de cultivo, que se encontrava em queda. O que Howard observou é que, os campos tradicionais da região, que contavam com a agricultura camponesa, mantinham sua fertilidade ano após ano enquanto os que utilizavam tais técnicas modernas subiam a produtividade de uma vez e, logo após, declinavam. Assim, Howard se pôs a estudar as técnicas de cultivo tradicionais locais, a que batizou de Método Indore, e fez diversas reflexões sobre como era insustentável as técnicas ditas modernas utilizadas na época. Howard, e na mesma época, na Áustria, Rudolf Steiner (fundador da agricultura biodinâmica), chegaram a conclusão que, para manter a sustentabilidade da propriedade, era necessário que se integrasse as atividades fazendo com que ela funcionasse como um macro organismo. 

Compreendendo então as ideias de Howard, Rodale as pôs em pratica, com as devidas adaptações, fundou a editora Rodale Press e, em 1948, publicou o livro Organic Front onde ele apresentou seu resultado. Essa ideia de origem a revista Organic Farming, publicada pela própria editora e funcionava como uma rede de experiencias para aqueles que tentavam fazer sua fazenda funcionar como um organismo. Nos anos 60, com o movimento de contracultura, a revista ganhou a atenção de quem questionava os rumos da sociedade moderna (potencializada pela obra de Rachel Carlson, Primavera Silenciosa, onde ela denunciava os danos ambientais causados pelos pesticidas, servindo como marco zero do movimento ambientalista) e o acabou ficando estigmatizada como publicação para hippies e o movimento como orgânico graças a ela. Um episódio envolvendo uma intoxicação em massa devido a uso de pesticidas fez com que estes agricultores, antes rejeitados, passassem a ser procurados pelas pessoas que se preocupavam com sua saúde. Como tudo que começa a dar dinheiro, aproveitadores começaram a se autointitular orgânicos, o que levou a ser criado o selo de identificação para separar quem realmente era dos que estavam só se aproveitando da situação. A partir daí foi necessário a criação de leis para regulamentar o processo. Os hippies foram deixados de lado, as pessoas que entendiam de criar leis tomaram a frente e, como era de se esperar, a filosofia do orgânico se perdeu no meio de normas e o nome deixou de fazer sentido.

PS – A revista ainda existe... tem até um site.

UM PESO, DUAS MEDIDAS

No Japão, ocorreu uma intoxicação em massa por causa de efluentes de uma fabrica, que lançava mercúrio sobre ás águas, e ficou conhecido como desastre de Minamata. A contaminação da Bacia de Minamata teve impactos na agricultura e pesca uma vez que a água contaminada acabava por contaminar os peixes e vegetais. Para se ter certeza de que os alimentos não proviam de áreas de risco de contaminação ao invés de adotarem a medida de terceirizar a a resolução do problema mandando alguém que fiscalize a origem, como feito nos EUA e copiado no Brasil, iniciou um movimento conhecido como Tekei que aproximava os consumidores dos agricultores. Essa atitude além de resolver o problema deles inibe o surgimento de outros problemas que foram aparecendo para os países que adotaram os selos orgânicos. Hoje no mundo existem alguns movimentos, como o CSA (no Brasil temos outro belíssimo exemplo com a Rede Ecovida), que, assim como o Tekei, vem buscar essa aproximação entre agricultores e consumidores como uma forma real de desenvolvimento sustentável. Alvin Toffler, autor da obra A Terceira Onda, criou o termo prossumidor, que é uma flexão das palavras produtor e consumidor, que encaixa perfeitamente com a filosofia do Tekei.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Caixa Dentro da Caixa

Contrariando um pouco a proposta do blog vou trazer algumas reflexões (mais precisamente duas) pensando dentro da caixa... mas, na verdade, isso é só pra mostrar as caixas dentro da caixa as quais algumas pessoas se recusam a pensar fora. E vou fazer estas reflexões em cima de um tema problemático: a sustentabilidade. Vale salientar que não é objetivo deste texto traçar uma definição ou discutir interpretações sobre o tema. Pretendo aqui tecer alguns comentários a respeito de algumas posturas de indivíduos que tenho tido contato constantemente.

A primeira, e mais corriqueira que vejo, é em relação ao tripé da sustentabilidade, ou triple bottom line (caso não conheça clique aqui), que, embora não seja unanimidade, é um conceito muito bem aceito quando se trata deste assunto. A coisa mais comum em debates pela internet é ver pessoas que dizem trabalhar com sustentabilidade usando frases como “as pessoas só estão vendo o lado ambiental da coisa”, ou “utilizamos tal ação para o campo ambiental e tal ação para o campo econômico”. Ambas frases demonstram uma total falta de compreensão do conceito supracitado. A imagem do tripé não é arbitraria, ela simboliza exatamente que cada elemento (ou ação) tem de estar sustentado pelos três campos, como em uma viga reciproca, representada na figura abaixo, onde cada pé contribui para manter a estrutura de pé, e sem ele ela desmoronaria. Logo, se existe uma falha no campo ambiental (ou em qualquer outro) não significa que as pessoas estejam olhando só este campo, e sim de que este elemento não se sustenta pois ele é falho nesse ponto. Da mesma forma, os elementos não podem pertencer a algum dos campos, e sim possuir um 'peso' em cada um deles. Observe que tais considerações não foram feitas para pessoas que questionam este conceito como valido, mas para pessoas que conhecem o mesmo, o citam e o fazem de forma completamente equivocada. Outros erros comuns envolvendo este conceito é tentar compartimentar mais (sustentabilidade sócio-extrativista-da-casinha-do-sô-zé) sendo que as divisões destes campos já serão contempladas se o campo em si for, e criar outro pés que, pensando com um pouco mais de cuidado, já estão implícitos nestes.

Viga reciproca de três bases. Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Three_stick_reciprocal_frame.JPG


A segunda, embora esteja sendo tecida pelo mesma linha da primeira, pode ser estendida para além do tema de sustentabilidade, pois se trata da interdisciplinariedade, que outro conceito muito bem aceito quando se fala sobre este tema. Neste caso faço considerações pelo viés pratico pois, em varias ocasiões, lidei com grupos que, conforme manda a cartilha, foram formados para ser interdisciplinar e, na hora de efetivamente trabalhar, as tarefas eram realizadas de acordo com área de competência do indivíduo, não passando por discussão (ou quando passando utilizando o conceito de 'especialidade' para não aceitar criticas e sugestões) chegando a um resultado final indiferenciável de um produzido das formas tradicionais (e não interdisciplinares). Novamente faço a ressalva que não houve um questionamento nesses casos se o grupo interdisciplinar era necessário... todos haviam concordado de que era o correto e, na forma de trabalhar, contrariaram essa proposta.

Embora estes dois exemplos pareçam um pouco distantes um dos outros eles possuem uma causa em comum. O que ocorre nestes casos é que o senso comum, ou mais precisamente o consenso de um grupo, foi criado a a partir de ideias fora da caixa. Para quem não consegue agir bem nessa situação (leia-se, a maioria), pode se dizer que, continuando a analogia das caixas, estas pessoas criaram caixas dentro da sua caixinha de conforto e assim as ideias que estanciam locais fora da caixa (que agora é uma caixa dentro da caixa) agora apontam para dentro da antiga caixa, longe do caos de fora da caixa, completamente dentro da zona de conforto e, consequentemente, completamente equivocadas.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

As Voltas Que Mundo Dá


Há cerca de oito anos atrás eu recebi, por e-mail, um texto intitulado “Você é Hands On?” (procurei por ele na internet para postar aqui mas não achei). Nele, o autor, que já não lembro quem é, expunha as vantagens de ser e de conhecer pessoas que são hands on além de fazer, de forma bem disfarçada, uma depreciação de quem não era. Gostei bastante do texto e, pra mim, era mais um destes textos que todo mundo recebia muito por e-mail (hoje eles são repassados nas redes sociais) sem muita importância, mas depois me surpreendi.

Pra que não se lembra (ou era muito novo) essa época, entre 2003 e 2005, este tipo de assunto foi uma febre. O Monge e o Executivo, livro de 1998, estava nas listas de mais vendido em tudo quanto era lugar. O mundo corporativo estava bem tentador, afinal o país experimentava uma sensação de, aparentemente, segurança econômica, e brotavam gurus ensinados em como fazer seu currículo vazio parecer cheio, e davam muitas dicas sobre como deveria se portar em entrevistas de emprego, que tipo de pessoa você deveria querer que as pessoas achassem que você é e mais um monte de ladainhas desse tipo. Abrindo um parêntese aqui... talvez nem fosse coisa da época, as coisas sempre foram assim e, na verdade, era eu quem estava chegando na idade de me preocupar com essas coisas. De uma forma ou de outra, eu aprendi muito com os erros dessa geração.

Voltando ao assunto, hands on foi um termo que acabou entrando no cotidiano das pessoas. Tentaram até traduzir mas, pra variar, o mundo corporativo gosta do termo no original. Os headhunters (olha aí...) logo ficaram de olhos para identificar quem eram os hands on, haviam testes em revistas para ver se você era, quem não era ficava doido pra ser. Enfim... muito fizeram, e contrataram, e, verdade seja dita, perceberam que a coisa não é bem do jeito que se pinta. Do auge dessa fase eu destaco um texto homônimo ao que me trouxe conhecimento, escrito por Max Gehringer, onde ele satiriza de forma bem criativa o cenário que se formou.

Não é de se espantar que hoje apareça um movimento oposto. Não sei como começou mas já identifico os mesmos sinais do movimento hands on no novo momento procrastinador. Tomei conhecimento deste através do livro do filósofo John Perry, “A Arte da Procrastinação”. Não li (ainda??), mas já li algumas resenhas e entrevistas falando sobre, além das clássicos testes de revista: “você é procrastinador?”, ou “7 motivos para valorizar a procrastinação” (agora, com as matérias de internet ainda existe o X coisas sobre tal assunto que você não sabia), mas gostaria de falar sobre o movimento, e não sobre a obra em si.

Como bom procrastinador (veja bem... já deixei claro que os textos saem na terça mas, mesmo tendo tempo durante a semana, ainda não escrevi nenhum pra deixar de reserva caso não consiga terminar algum a tempo) eu teria motivos de sobra pra dizer que esse é o grande achado... nestas listas de motivos para valorizar a procrastinação eles não citam exatamente o que é, em minha concepção, a causa de todas as vantagens: O procrastinador pensa muito sobre as tarefas. Normalmente o hands on é mais pragmático, e tem facilidade em agir assim. Os procrastinadores por sua vez já refletem muito sobre o assunto, normalmente afim de achar um jeito de fazer mais rápido, e acabam achando as falhas que, alguém pragmático, simplesmente não enxerga.

Mas, como ficou implícito, eu não acho que esse seja o grande achado. Primeiro, dizer as pessoas que tipo de profissional você quer só faz com que elas se “manqueiem” para parecer com o profissional que você quer... foi você que pediu para ser enganado. Segundo, para ter uma equipe boa é necessário que haja duas coisas: diversidade (de opinião, de tipos, de interesses... especialistas, ecléticos, hands on, procrastinadores, conservadores, liberais, etc) e, consequentemente, dinâmica, saber lidar com as diferenças. É engraçado que isso parece muito obvio, mas na pratica nunca é.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Breve Reflexão Sobre Transgênicos #01 – Apresentação

Assim como foi feito com os alimentos orgânicos pretendo abrir uma pequena serie sobre transgênicos. No entanto, ao contrario da outra, esta serie pretende, ao menos no inicio, ser mais estruturada, seguindo um pequeno roteiro. Pretendo, ao longo dos textos, falar um pouco sobre a tecnologia em si, as variedades existentes, o papel de algumas entidades e a visão da sociedade sobre o assunto, não necessariamente de forma tão fragmentada, não necessariamente nessa ordem.

O ponto de partida desta serie é uma pergunta que há muito venho sendo questionado: Você é contra os transgênicos? Ou as vezes de forma mais direta: Por que você é contra os transgênicos? Algumas pessoas, ao serem questionadas com estas perguntas, já têm uma resposta na ponta da língua. Eu não tenho, embora já era pra ter formulado uma... é mais frequente do que parece, mas em geral eu sempre começo perguntando: o que você chama de “os transgênicos”?

Antes de prosseguir vou fazer uma pequena observação. Acontece que na mentalidade dicotômica, que impera na maior parte das pessoas hoje, existe o certo e o errado de forma bem clara e, caso você pondere para responder algo assim você corre o risco de ser tachado de “sem opinião” ou simplesmente de “desinformado”. Você tem que ser contra ou a favor das coisas... ponderar é enrolação. Eu simplesmente não concordo com isso.

Dito isso, prossigamos! Bom, os OGMs (organismos geneticamente modificados) são organismos que passaram pelo processo de transgenia, ou seja, tiveram em seu DNA a implantação de uma estrutura de DNA de outro organismo que trás alguma característica desejável ao organismo que recebe esta estrutura. Isso está exemplificado na figura abaixo e pode ser visto com mais detalhes aqui (não gostei muito deste texto mas foi a primeira pagina retornada pelo Google e, de fato, a mais imparcial que eu dispunha) ou em qualquer pesquisa mais elaborada que você fizer.

Fonte: 

Esta tecnologia permitiu uma maior compreensão do genoma, e consequentemente uma maior compreensão da vida. Desta forma foi possível testar algumas teorias além de, potencialmente, permitir avanços em tantas áreas diferentes que seria difícil listar aqui.

Voltando então a pergunta: o que você chama de “os transgênicos”? É a tecnologia? Porque se for isso eu não tenho absolutamente nada contra. Talvez algumas considerações em relação a forma de se fazer pesquisas, as prioridades, e etc... mas nada contra. Mas esta tecnologia rendeu alguns produtos, e contra alguns deles eu tenho sim varias coisas contra. E são exatamente essas coisas que vão puxar esta serie. Então, até a próxima!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Breve Reflexão Sobre Alimentos Orgânicos #01

Embora não tenha recebido, até o momento, via blog um questionamento sobre o porquê ter colocado no texto anterior que o consumo de orgânicos por parte dos Flintgreens está como fator negativo, este questionamento é bem comum em minhas conversas em mesas de boteco. Por isso vou iniciar algo que pretende ser uma série (como pode ver pelo titulo) de reflexões sobre os orgânicos. Para bem dizer não iria fazer isso essa semana, mas, por vários motivos, acabou sendo oportuno. OBS – Só para ficar claro, não sou contra alimentos orgânicos... mas há que se diferenciar o que é filosofia e o que é greenwashing.

Recebi essa semana a indicação deste artigo sobre alimentos orgânicos. Não é o primeiro artigo sobre experiências que realizam este tipo de comparação que eu leio, e várias das que eu já tive contato fazem parte da base de dados que levou ao artigo original (que pode ser lido por aqui). Este é um grande embate científico a cerca do tema pois, cada vez que um estudo como este é lançado, normalmente aparece alguma resposta na direção oposta (na forma de um outro artigo ou opinião publica de um cientista que contesta a metodologia do mesmo) quase sempre ligada a uma empresa de agroquímicos.

Existe uma dificuldade realmente muito grande em realizar um estudo definitivo sobre as diferenças nutricionais entre orgânicos x convencionais e, eu diria mais, que o que existe na verdade é uma impossibilidade de determinação. Isso simplesmente pelo fato de que os sistemas de cultivos são (e devem ser) completamente diferentes uns dos outros, ainda que não pareçam. Se fizessem um estudo para determinar as diferenças nutricionais entre dois cultivos convencionais da mesma variedade vegetal, porém, cultivados em locais diferentes, há uma grande probabilidade de se constatar alguma diferença nutricional. Isso porque a presença de micronutrientes não avaliados no exame do solo podem fazer muita diferença, além de resposta fisiológica da planta a alguma adversidade do ambiente pode levar a fabricação de algum composto de metabolismo secundário que terá alguma função nutricional (positiva ou negativa). Uma alternativa, e você talvez tenha pensado nisso, é fazer em ambiente controlado, mas eu refuto esta ideia por dois motivos: primeiro, e mais obvio, é que nós não podemos confiar, para fim de nortear nossa alimentação, em resultados oriundos de ambientes controlados vistos que, nem remotamente, os alimentos que chegam em nossas mesas são frutos de um processo semelhante. Com certeza os resultados são completamente diferentes da nossa realidade; em segundo lugar os cultivos orgânicos utilizam, ou deveriam utilizar, de atributos do ambiente para garantir sua sustentabilidade. A diminuição da complexidade do ambiente, para fim de controlá-lo, pode diminuir muito a capacidade do sistema e prejudicar, e muito, os resultados do orgânico.

Por fim, gostaria apenas de frisar o detalhe jornalístico. Observe que, no próprio texto afirma que o artigo tem como objetivo mostrar que a forma de cultivo influencia nos fatores nutricionais dos alimentos e, exatamente por isso, não se concluiu nada a respeito do que é mais saudável. Mas, a despeito disso, a jornalista fez questão de estampar no título que o estudo confirma os benefícios do alimento orgânico. Tsc, tsc, tsc...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Flintgreens...

...OU ECOSTONES 2.0

Quem leu o post Olá Mundo! deste blog viu que o principal motivo da criação do mesmo foi o sumiço de um texto devido o site em que ele estava locado ter saído do ar (e eu não ter uma copia). Pois bem, nada me restou a fazer senão reescrevê-lo (pelo bem da verdade eu poderia ter deixado pra lá também), mas, já que vai ficar diferente mesmo, resolvi fazer muitas alterações. De cara, o nome... mas, para quem leu o antigo, eu deixei ele como subtitulo e com o 2.0 para não acusarem de plagiar eu mesmo. No mais acrescentei algumas referencias mais atuais. Espero que fique diferente para melhor!

INTRODUÇÃO

Flintstones. Meet the Flintstones.
They're the modern stone age family

Temade abertura dos Flintstones

Você com certeza conhece os Flintstones! Caso não conheça pode dar uma olhada no verbete deles na wikipedia e, quem sabe, até procurar uns episódios nos confins da internet aí para conhecer. Enfim, os Flintstones é um desenho animado criado pela produtora Hanna-Barbera nos anos 60 que conta a história de uma família de classe média, aos moldes das famílias de classe média estadunidenses dos anos 50-60, só que na idade da pedra (na verdade não tem muito a ver com a idade da pedra). Obviamente se tratava de uma sátira, e os produtores foram muito criativos ao adaptarem as tecnologias dos anos 60 para o contexto do ambiente. Nele, cortadores de grama, trituradores, escavadeiras, etc eram feitos com dinossauros (na idade da pedra?? pois é...), além de carros feito com troncos, bola de boliche de coco e etc.

Os Flintsones no tronco-movel. Fonte:


Algumas dessas adaptações tecnológicas eram hilárias, mas, como diz a velha máxima, a vida e imita a arte e hoje nós podemos encontrar algo muito parecido com esse desenho.

MEET THE FLINTGREENS...

Não basta mudar a energia que faz as engrenagens girarem... são elas que precisam ser repensadas

Humberto Gessinger – Até quando o motor aguenta?



Eis então, em pleno século XXI, aparece os Flintgreens. Assim como os Flintstones, eles possuem os mesmos hábitos das famílias “comuns”, a mesma veia consumista e padrão de vida, mas com uma tecnologia adaptada. Ao invés de um carro comum eles possuem um carro elétrico, ao invés de comprarem verduras convencionais compram orgânicos, ao invés de um celular com capa de plástico possuem um com capa de bambu... e por aí vai.

Esse termo é uma junção do nome Flintstones com o termo greenwashing (que se diz quando uma empresa atribui a seu produto características sustentáveis quando, na verdade, a cadeia de seu produto é tão insustentável quanto os produtos convencionais – leia um pouco mais aqui). O Flintgreen é o principal consumidor dos greenwashers, isso porque ele acredita na terceirização da resolução dos problemas. Ele não quer abrir mão do padrão de consumo então ele passa a acreditar que apenas com uma mudança de insumo os problemas irão se resolver. Ele acha que trocar a gasolina pela eletricidade resolve o problema do carro, mas não vê o quanto de recursos naturais são gastos para a fabricação de um carro, inclusive derivados do petróleo e, dependendo de onde ele morar, que a fonte de energia elétrica é esta atrelada a diversas danos ambientais e sociais, afora os outros tantos problemas relacionados ao uso de carros pessoais. Ele também compra orgânico, mas compra em um supermercado, de grandes marcas, sem conhecer as condições de procedência e confia num selo o qual ele possivelmente nuca leu as condições de tirá-lo. E, mais feio ainda, compra uma capinha de bambu pro celular sabe-se la por qual motivo (quando é por estética tudo bem... o problema é ver isso ser justificado como um produto “sustentável”).

Vou citar um exemplo, um pouco antigo, mas grotesco, que pode ser visto aqui, onde o politico em questão resolveu utilizar materiais poluentes ao ambiente para dar cor verde aos fogos de artifício para demonstrar a preocupação do governo com o ambiente. Fez sentido?

TERCEIRIZAÇÃO DA RESOLUÇÃO DOS PROBLEMAS E A DESINFORMAÇÃO

Tudo certo, parceria, que palavras lindas
Mas ainda tem uma coisa que eu não entendi
Qual é, afinal, o peixe que tu tá vendendo?

Alexandre Kumpinski – Por trás

Muitos dos problemas que enfrentamos hoje é oriundo da terceirização da resolução dos problemas. Não que delegar funções a quem for mais competente seja um problema, mas o desinteresse sobre como aquilo será resolvido, que gera a desinformação, da base para estes problemas ocorram. A sociedade diz “não quero saber como você vai fazer isso, mas faça bem longe de mim!”. E só toma conhecimento quando a má gestão da coisa leva a um outro problema, que leva a um outro problema... e acaba retornado pra pessoa. Eu sou velho suficiente pra ter visto a entrada da garrafa PET no mercado brasileiro (ao menos no interior) e lembro que nós, crianças da época, pensávamos “legal, mas o que vai fazer com esse monte de garrafa depois?”, já os adultos pensavam “não quero saber, contanto que façam bem longe daqui!”.

Por fim, para uma maior reflexão sobre a desinformação, vou deixar aqui um vídeo que foi viralizado pouco antes da publicação deste post onde a consultora de marketing Kate Cooper faz a revelação da realidade para uma plateia dos problemas que eles delegaram para outros resolverem e fazem questão de não saber como andam sendo resolvidos.

domingo, 24 de agosto de 2014

Olá Mundo!

Não faço ideia como chegou aqui, mas seja bem vind@ ao blog! 

Este é mais um blog sobre divagações, como tantos outros por aí, escrito em primeira pessoa e sem um assunto definido. A verdade que há algum tempo eu escrevo textos, como os que pretendo publicar por este meio, que tento publicar em veículos diferentes (por algum motivo me atraia a ideia de ter um conteúdo descentralizado). O problema é que, além disso diminuir bastante a produção (se não vinculo a ideia a um veiculo ela fica na minha cabeça e eu nunca a escrevo), o inevitável acabou por ocorrer... procurei um destes textos que eu não tenho cópia (até tinha, mas computadores possuem seus caprichos) e descobri que o site havia se extinguido. Foi o estímulo que faltava para achar este veículo que, como eu espero, resolva este problema e acabe inevitavelmente trazendo outros. 

Por fim, espero que realmente o conteúdo venha a ser do interesse de alguém! 

 SOBRE O CONTEÚDO, O NOME E MAIS... 

Conforme foi dito, não existe um assunto definido, o que me permite escrever sobre qualquer coisa, porém, a minha monotonia possivelmente não vai permitir uma gama tão grande assim assuntos. Em comum terão o fato de serem escritos em primeira pessoa e em uma linguagem bastante informal. O fato é que eu treinei muito para escrever artigos científicos (não fiquei muito bom, mas ganhei muitos elogios) e, pensando fora do senso comum, cheguei a conclusão de que esta é uma linguagem que cumpre muito mal o seu papel. Acaba por ficar desagradável (motivo pelo qual as publicações de divulgação científicas optam por uma linguagem mais jornalística), cheia de vícios (expressões, quase obrigatórias, que dizem pouco ou tem seu significado deturpado), além dos, hoje poucos mas ainda existentes, que acham que tamanho é qualidade. Uma ressalva, estou me referindo apenas aos artigos em português, mas, quem sabe, em outra ocasião venha falar dos artigos em inglês. A linguagem que procurarei usar aqui será mais agradável? Na verdade não sei, vou fazer a experiencia, mas, na pior das hipóteses será desagradável de uma forma diferente. E por falar em diferente... 

Extra archa é, até onde eu consegui chegar, o mais próximo em latim da expressão 'fora da caixa'. Esta expressão, do inglês out of box, embora tenha se originado de uma dinâmica muito simples, possuí uma filosofia muito rica e permite varias analogias, e significa pensar diferente do senso comum, buscar novas maneiras de se fazer as coisas. Esta então é a segunda coisa que eu espero que os posts tenham em comum... estarem fora do senso comum. 

SOBRE ARCAS, CAIXAS E ETC... 

Em diversas culturas a figura da arca, e posteriormente a caixa, sempre foi tratada como um dispositivo de controle. Há o que existe dentro e o que que existe fora. Na mitologia grega temos o exemplo da Pandora, que, por curiosidade, abriu uma arca que guardava todos os males do mundo (por sinal, a falta escrúpulo, que permite um indivíduo abrir por curiosidade algo que não lhe pertence, não era um dos males ali aprisionado). Noé construiu uma arca (e eu nunca vi outro lugar utilizar este termo para uma embarcação, logo concluo que deva ter o mesmo sentido) para salvar os que estivessem dentro. O que está dentro da arca, ou caixa, está sob controle. Uma dessas analogias que, ao meu ver, tem tudo a ver com o objetivo do blog está na música little boxes de Pete Seeger. Vou até deixá-la aqui na incrível versão do Walk off the Earth, que, além de ter ficado muito bonita está embalada nesse clipe muito bem feito. 

É este então o complemento que faltava... se a caixa é o controle fora da caixa está tudo o que ainda não foi controlado, é exatamente o ambiente onde este blog pretende estar. 

PS - Não tem nada a ver, mas arca também é um gênero de animais. 

SOBRE OS ERROS DE PORTUGUÊS 

Apesar de estar a mais de vinte anos estudando o português eu não consigo escrever duas linhas sem ter algum erro (e não é por falta interesse, e sim de capacidade mesmo), e chegou um momento que cansou. Hoje sou bastante relapso quanto a isso.